Revirei meus armários havia relicários já não usados nem tão pouco apreciados, parecia que de lá saiam vozearia, que clamavam para libertar-se, um clamor tão forte, inquieto e, muitas vezes, até bruto. E gritava tanto e com tanta intensidade, que me assustava seus agudos e seus graves, mas me prendia , me dominava e me levava a olhar e olhar permitindo, dessa forma, me levar a atmosferas nunca antes vistas. Eu sei, algo surreal em que meu imaginário prendia-se, e tornava-me insignificante de um espetáculo rutilante...
Este espetáculo que não fui convidada mas eu era obrigada a participar, não se tornava um sacrifício, porém uma quase rotina, então ele aparecia e me prendia para vê-lo em sua glória. Este espetáculo que de vezes me rasga as entranhas e consome fugazmente minha juventude. Dessa forma, posso vê-lo, contudo, não posso contê-lo,isto é, afoga-me, muitas vezes, com seus braços de pura incertezas.
E não posso fugir. Ele é invencível, incontrolável, imaginável e intocável. Ele torna-me vulnerável, deixa-me de olho nu, então posso debater-me com a verdade, posso fechar os olhos porém nunca posso negá-lo. Hoje, estou vendo-o mais claramente e posso senti-lo em meu corpo, em meus olhos extremamente vermelhos e em minha face pálida.
Ele nunca se perdeu, sempre teve dentro de mim, em meu armário. Porém ao abrir as portas ceguei as incógnitas, por isso, revelei tudo sem medo da impetuosa verdade e pude ver toda a tristeza, pude sentir tudo em tantas intensidades. Então, eu vi o que nunca poderia ter visto, e concluir que nem tudo que se quer ver é necessário. Contudo, não me fechei, agora que posso observar de forma mais clara e posso transpor certas inquietudes, deixo os dias passar e ultrapassarem minha juventude.
Eu o liberto e ele me prende, suga-me aos poucos e me arrasta em armadilhas do dia a dia, e nem paro para falar dele: está em tudo. Eu me sinto tão vil em sua frente, pois não tive como deter minha vontade de ser imortal, mas tão mortal que me deixou. Ele com todo o seu infinito me fez mortal.
Toda esse santuário, toda essa dádiva perene de meu espírito, todo meu contexto infantil de adulto, todos os dias monotonamente agitados eu sigo como se o vento que me agride fosse parte de mim e o sol que me incomoda fosse minhas raízes e todo o resto que me pertence fosse algo ao acaso. Será que tenho algo de mim?
Eu sei não possuo asas, sei que irei afunilar-me a cada dia mais, sei o quanto irão me privar e em quanto essa sensação de perda irá me alcançar. Disso não duvido: Eles são reais!
Agora rir de mim, mostra-me sua força e não posso cegar para sua realidade, ele brotou nos meus olhos a pétala do real, do vivo, do óbvio e ele me roubou bruscamente o encanto, tirou-me até os sonhos. Ele abriu meus olhos e fechou meu coração, meu armário e o relicário de espetáculos faliu.
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